A Santa Casa de Sobral emitiu nesta terça-feira (28), uma nota oficial comunicando a paralisação das suas atividades no próximo dia 06 de julho, devido o fim do contrato com a Prefeitura de Sobral e a defasagem da tabela do SUS para cobrir os custos de procedimentos.
No comunicado, a direção da unidade alega que, no primeiro quadrimestre deste ano, a instituição deixou de receber R$ 2,9 milhões referentes aos atendimentos e que há um prejuízo mensal imposto pelo Poder Público de R$ 2,5 milhões.
“Antes a gente comprava um soro, por exemplo, por R$ 2. Hoje, porém, não se compra o mesmo frasco por menos da R$ 10”, destacou o diretor da Santa Casa, Klebson Carvalho.
Ao ser indagado sobre o tema, o prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT), afirmou que as informações não passam de boatos e definitivamente “isso jamais irá ocorrer”. “Constantemente, tenho sido perguntado a respeito de boatos, mais uma vez em período eleitoral, acerca de eventual paralisação de serviços da Santa Casa de Sobral. Deixe-me dizer algo definitivo: isso jamais vai ocorrer“, pontuou o gestor.
Atualmente, a entidade filantrópica é responsável pelo atendimento de pacientes de Sobral e de mais 55 municípios, totalizando aproximadamente 1,9 milhão de pessoas.
Confira a íntegra da nota emitida pela direção da Santa Casa de Misericórdia:
Desde a sua fundação há 97 anos, a Santa Casa de Misericórdia de Sobral sempre teve como missão prestar assistência à população, sendo um hospital filantrópico que presta 100% dos seus serviços ao Sistema Único de Saúde (SUS) e é porta aberta para traumatologia, neurocirurgia e obstetrícia de alto risco. De acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde, a Instituição é a maior prestadora de serviços de saúde do Estado do Ceará, atendendo a mais de 54 municípios da Região Norte do Estado, com uma população composta por aproximadamente 1,8 milhão de pessoas.
Nos últimos anos, a Santa Casa de Misericórdia de Sobral vem sofrendo descontos extremamente injustos nos incentivos federais destinados ao custeio do serviço prestado pela Instituição. Existe uma contratualização firmada entre a Santa Casa e Prefeitura de Sobral para fiscalização e recebimento dos incentivos, na qual o município exige o cumprimento de metas superiores à série histórica de produção em média complexidade do hospital sem incrementar recursos para tanto.
A Instituição sofre com a exigência de metas impraticáveis e, consequentemente, com o desconto nas verbas que lhe pertencem e que são essenciais para a sua manutenção. Somente no primeiro quadrimestre deste ano, a Santa Casa deixou de receber R$ 2.957.863,74 (dois milhões, novecentos e cinquenta e sete mil, oitocentos e sessenta e três reais e setenta e quatro centavos). Da mesma forma no ano de 2021 em que deixou de receber o montante de R$ 6.798.746,42 (seis milhões, setecentos e noventa e oito mil, setecentos e quarenta e seis reais e quarenta e dois centavos) referentes aos atendimentos SUS dos meses de janeiro a abril. Ainda há o valor de R$ 1.259.496,28 (um milhão, duzentos e cinquenta e nove mil, quatrocentos e noventa e seis reais e vinte e oito centavos) referente aos dez novos leitos de UTI Adulto da Santa Casa que também não foram repassados à Instituição entre os meses de janeiro a maio de 2022.
A crise não termina aí. Além da falta de apoio financeiro por parte da gestão municipal, ainda há a superlotação, a crescente inflação na saúde e os aumentos dos custos em razão da pandemia. A tabela SUS cobre, em média, 60% dos custos efetivos dos procedimentos realizados e não é atualizada monetariamente há mais de duas décadas.
Para se ter uma ideia, um exame de ultrassonografia tem um custo médio no país de R$ 130 (cento e trinta reais), mas, pela tabela SUS, o valor do procedimento é ainda de R$ 37,95 (trinta e sete reais e noventa e cinco centavos). Para uma diária de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) são cobertos com recursos do SUS R$ 580 (quinhentos e oitenta reais), quando a despesa real é estimada em R$ 2,8 mil (dois mil e oitocentos reais). A diferença entre o que é pago pelo SUS e o que o procedimento custa de fato causa déficit todos os anos à Instituição. Atualmente o prejuízo mensal imposto pelo Poder Público à Santa Casa de Misericórdia de Sobral é da ordem de R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais).
A saúde pública é um direito de todos e dever do Estado. A Santa Casa de Misericórdia de Sobral neste contexto assumiu também a missão de cuidar da população de forma gratuita por meio do SUS diante da contratação pelo Poder Público. Todavia, a Instituição está vivenciando uma situação emergencial, correndo o risco, infelizmente, de não renovar a prestação de serviços públicos se não for remunerada adequadamente, paralisando suas atividades na próxima quarta-feira (06/07) por encerramento do aditivo contratual com a Gestão Municipal de Sobral.
Reiteramos que estamos buscando diálogos e alternativas para continuar prestando assistência em saúde à população da Região Norte.
Com informações da Redação