“O estado legal foi engolido pelo estado marginal”, diz presidente do TRE-CE

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O presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), desembargador Raimundo Nonato Silva Santos, teceu duras críticas à situação de insegurança no Estado. Em Congresso Regional Eleitoral no auditório da Unileão, em Juazeiro do Norte, no Cariri, o magistrado afirmou que “o estado legal foi engolido pelo estado marginal”. A fala ocorreu na semana passada e vem repercutindo dentre as autoridades políticas cearenses.

Em suas falas iniciais no evento, Raimundo Nonato afirmou que, no século passado, a situação do Estado em relação à presença das organizações criminosas não estava como está atualmente. “As drogas e as facções estão avançando a passos largos”, disse ele. Como exemplo, o magistrado citou o município de Santa Quitéria, cidade em que ele afirmou que o delegado da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) dá plantão por telefone. “No final de semana, cadê o delegado?”, afirmou.

“Uma cidade como Santa Quitéria, toda tomada pelo Comando Vermelho. Fui obrigado a decretar prisão do prefeito, porque ela estava toda tomada pelo Comando Vermelho”, disse, lembrando a prisão de Braguinha (PSB) e citando que o município, durante as eleições de 2024, deram um “exemplo de bandidagem”.

Ainda no evento, ele direcionou a palavra aos alunos que estavam presentes no Congresso. “Os senhores, alunos do curso de Direito, prestem atenção. Se forem fazer concurso para juiz, promotor ou para a carreira de delegado, prestem atenção. Vamos ter que reconstruir isso tudo. Ou a gente reconstrói, ou então a gente vai viver como? Como vamos poder viver?”, questionou.

REPERCUSSÃO

A fala de Raimundo Nonato repercutiu no cenário político cearense. Na sessão desta quarta-feira (26) na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), o deputado Cláudio Pinho (PDT), de oposição ao governador Elmano de Freitas (PT), comentou sobre a declaração do presidente do TRE-CE. Segundo o parlamentar, a fala revela a “falência do Estado” no combate à violência. “Essa é a realidade do que está acontecendo no Ceará, com as drogas e as facções avançando a passos largos”, ressaltou.

Para o deputado, é preocupante a situação do Estado diante do avanço da violência e do controle do crime organizado. “Aonde vamos chegar com tamanha violência, com um estado paralelo atuante, a ponto de o presidente de um tribunal dizer que o ‘estado marginal’ tomou conta do Estado”, avaliou. Ainda de acordo com ele, é necessário que os poderes estabelecidos tenham um norte em relação à segurança pública e as autoridades tenham pulso firme para o enfrentamento ao crime organizado.

“Há pedidos de intervenção federal no Ceará, mas o que resolveu a intervenção federal no Rio de Janeiro, por exemplo? A verdade é que a sociedade está doente, com pessoas se agredindo e se matando, perdendo o respeito e o amor pela vida. É por isso que precisamos repercutir o que está sendo dito por uma autoridade do nosso Estado”, apontou Cláudio Pinho.

O pedido de intervenção federal, aliás, foi solicitado pelo senador Eduardo Girão (Novo) na sessão de terça-feira (25) no Senado. No seu pronunciamento no plenário, o parlamentar falou sobre a insegurança que assola o Estado e afirmou que a população cearense já não acredita mais na capacidade do Governo do Ceará para protegê-la. “Se o estado não cumpre sua função, a união deve intervir”, disse. Na ocasião, ele também citou as palavras de Raimundo Nonato.