O calendário de abastecimento da Operação Carro-Pipa (OCP) de outubro surpreendeu moradores de 20 cidades do Ceará que dependem do programa. No documento, a entrega de água potável está agendada apenas até o dia 16 próximo. Não há previsão de novas rotas dos caminhões para o restante do mês.
Conforme o Comando Militar do Nordeste (CMN), foi recebido apenas 44% da verba necessária para o mês de outubro. Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), responsável pelos repasses, alega que uma abertura de crédito adicional foi liberada e que normalidade se dará “nas próximas semanas”, mas não estima data.
Sem a água entregue, cerca de 110 mil cearenses podem ficar sem acesso ao recurso em 22 municípios. O número de pessoas atendidas consta no Portal da Operação Carro-Pipa, mantido pelo Exército Brasileiro. São, ao todo, 232 pipeiros, distribuídos por 20 das cidades — Aiuaba e Tauá estão com serviço temporariamente suspenso por falta de interesse de profissionais e por determinação da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), respectivamente.
Francisco Cassiano, coordenador da Defesa Civil de Madalena, a 189,9 km de Fortaleza, descreve a situação como “sufoco”. Segundo ele, a Prefeitura do município de quase 17 mil habitantes já paga cinco caminhões extras, porque os 14 pagos pelo Governo Federal não são suficientes.
Conforme o coordenador, a informação repassada pela 10ª Região Militar, responsável pela operacionalização da OCP no Ceará, é de que não há recursos para continuar com o abastecimento até o fim do mês. A verba para a operação é oriunda do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR). “Se não houver solução para essas 14 (carros) pipas, não sei como é que a gente vai atender a população”, admite.
Em Independência, a 310,5 km da Capital, os 6.641 moradores da zona rural dependem exclusivamente dos caminhões pipa para ter acesso à água potável. Seis pipeiros — como são chamados os responsáveis pelos caminhões — fazem as rotas de abastecimento da cidade. Número que, de acordo com Lúcio Hernandes, responsável pela Defesa Civil do município, é insuficiente.
“O município não teria condições [de suplementar], seria uma grande demanda. Já não está sendo suficiente. E não tem outra fonte de água, o município vai entrar em colapso”, diz Lúcio. Boa Viagem, outra cidade abastecida pelos carro-pipa, até tem poços profundos na zona rural, conforme o coordenador da Defesa Civil do município, Ivandir Silva. No entanto, a água não é própria para o consumo humano.
“A gente depende da água potável para atender as comunidades”, afirma. A cidade recebe 13 rotas de caminhões para 3.701 residentes de áreas mais afastadas do centro do município.
Eliete Abreu de Sousa, 54, é agente comunitária de saúde e moradora da comunidade Salão II, em Canindé, no Sertão Central do Ceará. Ela conta que todos estão apreensivos com a possibilidade de ficar sem água. “Racionamento a gente já faz desde que o carro-pipa coloca a água no nosso sistema. A gente tá num momento muito desesperador. Porque nosso local não tem água. O açude está seco há dez anos. Não temos outra fonte de água”, relata.
Segundo ela, há famílias de Salão II, distante 7 km da área urbana de Canindé, que pensam em ir embora da zona rural mesmo a contragosto. “Vai chegar uma hora que vai ser obrigado”, lamenta.
Já o Ministério da Integração e do Desenvolvimento (MIRD) explicou, por meio de e-mail, que “foi informado da concordância por parte do Ministério do Planejamento e Orçamento para abertura de crédito adicional, portanto, as descentralizações estarão normalizadas nas próximas semanas”.
No entanto, entidade destacou que “não é possível precisar data, pois os tramites são de responsabilidade da Secretaria de Orçamento Federal”.