Em um intervalo de seis dias, uma mulher de 80 anos recebeu duas doses da vacina CoronaVac — produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac —, em Independência, no interior do Ceará.
A caderneta de vacinação de Francisca Soares Bezerra, datada em 12 de março, mostra que a segunda administração do imunizante havia sido agendada somente para 9 de abril próximo.
No entanto, no dia 18 último, seis dias após ser vacinada, a idosa recebeu novamente a visita de agentes da Secretaria Municipal para mais uma aplicação.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é necessário respeitar o intervalo de duas a quatro semanas entre as doses da CoronaVac para garantir a eficácia do imunizante.
A terapeuta ocupacional, Rozélia Bezerra, 59, filha de Francisca, conta que sua mãe chegou a questionar.
“Ela mãe anda esquecida. Então, pensou que estivesse tomando na data certa. Por isso, perguntou somente após a agente concluir: ‘já é a segunda dose?’. Foi quando os profissionais de saúde responderam que seria a primeira”, detalhou.
A primeira caderneta chegou a ser levada pelos agentes. A família entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde, que confirmou o erro, afirmou que devolveria o documento e informou a necessidade de uma 3ª aplicação.
“Estamos muito preocupados e triste com esse desperdício. Alguém deixou de tomar devido a esse erro”, disse Rozélia.
O Diário do Nordeste ligou e enviou mensagens para o secretário Antônio Edi Vieira Coutinho, mas não conseguiu contato com a pasta até o fechamento desta matéria.
PERDA DE DOSE E EFICÁCIA
O infectologista Keny Colares, consultor da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP) e pesquisador de casos de recorrência de sintomas da Covid-19 no Estado, pondera sobre perda de uma dose da vacina, mas destaca que o erro na aplicação não deverá gerar riscos à saúde da idosa.
“É preciso esperar o sistema de defesa desafiar a primeira dose e depois fazer isso novamente com a segunda. Por isso, deve ocorrer no período determinado. Quando se utiliza fora dos prazos, pode perder a capacidade”, explicou.
“Ou seja, pode até funcionar, mas não temos como garantir e ela precisará tomar uma terceira dose após duas ou quatro semanas da última”, reafirmou.
Um estudo realizado pelo Instituto Butantan para testar a eficácia da CoronaVac no Brasil apontou que a melhor resposta imune acontece no maior intervalo de tempo entre a aplicação das duas doses – entre 21 e 28 dias.
VACINAS NO CEARÁ
No Ceará, somam-se 1.175.250 doses recebidas em 10 lotes, segundo o Vacinômetro, atualizado pela Secretaria de Saúde do Ceará. Desse total, 806.347 foram aplicadas nos primeiros grupos prioritários da campanha, iniciada em 18 de janeiro último.